A cultura do Râguebi

Para quem gosta de Râguebi este mundial de 2015 tem-se revelado um evento de excelência, verdadeiramente inspirador. Estádios cheios, jogos bem disputados, surpresas pouco habituais, arbitragens impecáveis, saudável competição e convivência, dentro e fora dos recintos de jogo.

O Râguebi é de facto diferente, pelo menos ao nível internacional. Essa diferença, a marca que torna modalidade verdadeiramente ímpar no contexto das modalidades colectivas de alta competição, reside fundamentalmente na forma como desde cedo as equipas aprendem a lidar com o sucesso e a derrota. No mundo oval raramente há desculpas. A atribuição causal é predominantemente interna e por isso, se as vitórias são mais saborosas, as derrotas são entendidas como insucessos próprios, verdadeiras oportunidades de melhoria que não podem nem devem ser descartadas para cima de terceiros.

Apesar de ser - de entre aqueles que conheço - um dos contextos desportivos mais tradicionais e conservadores de aspectos essenciais da sua cultura, o Râguebi tem sido simultaneamente uma das modalidades mais abertas a alterações de natureza diversa. É por isso com naturalidade que praticantes, treinadores, árbitros e adeptos integram as alterações às leis do jogo que frequentemente são introduzidas pela IRB (a International Rugby Board), procurando aumentar a espectacularidade do jogo e a segurança dos praticantes.

A introdução de meios tecnológicos de suporte à arbitragem foi outra alteração de fundo ao nível das competições internacionais de Râguebi. Acontece que, contrariamente ao que se passa no futebol, modalidade marcada por constante polémica em torno as arbitragens, no contexto da qual há uma cultura instituída e estruturante baseada na permanente atribuição de "culpa" a terceiros (ao árbitro, fundamentalmente), o Râguebi não perspectivou nem procurou resolver um problema de cultura de jogo através do recurso ao vídeo-árbitro. Fazê-lo seria um género de "fuga para a frente" que rapidamente se revelaria desastrosa.

Creio que é fundamental a observação e o estudo de competições como o Mundial de Râguebi, os torneios das VI e IV Nações por parte daqueles que desejam para o futebol um salto qualitativo verdadeiro. Mais fundamental ainda é procurar nas raízes da cultura do Râguebi, mais fortes em algumas nações, menos desenvolvidas noutras, a causa verdadeira para a aparente contradição de se observar no seio de uma modalidade tradicionalista (tradicional, no sentido mais positivo da expressão) singular disponibilidade para formas de inovação que acabam por reforçar o jogo e a sua dimensão ideológica original. No fundo a sua cultura e "mundivisão".


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