"Treinar para nada"
A ideia de que apenas exames são capazes de fechar um ciclo de aprendizagem é legítima mas extremamente limitada e anacrónica. A sua pior consequência é aquela que podemos ler claramente em depoimentos e opiniões como aqueles que o próprio sistema impôs aos miúdos: a percepção de que as aulas servem para preparar exames ("Isto tudo para nada?", pergunta-se a Sofia), que por sua vez prepararam os alunos para exames futuros, que são um género de simulação de uma vida durante a qual somos examinados todos os dias. Triste, não é?
Eu creio que a escola é um espaço de construção da mudança; creio que o fundamental da escola - "das aulas" - não é preparar exames nem encarreirar alunos; julgo que o papel da educação é alargar horizontes - multiplicar opções - em vez de os fechar - dirigindo os alunos para um conjunto delas, pré-definidas. E uma escola que estabelece como o alfa e o ómega da sua intervenção preparar os meninos para uma prova escrita, cujos conteúdos e critérios de avaliação são não raras vezes profundamente estúpidos, é em si mesma uma inutilidade absoluta.
Os exames vão morrer porque são inúteis, anacrónicos e limitadores da criatividade e capacidade de diversificar abordagens dos professores. São momentos profundamente stressantes para crianças que deveriam viver os seus primeiros anos na escola como um período de compreensão do papel da descoberta, do estudo, do auto-estudo e da cooperação no seu processo de aprendizagem e no seu desenvolvimento enquanto pessoas. São espartilhos que condicionam o planeamento do ano lectivo, deixando professores, alunos e pais à beira de um ataque de nervos porque todo o programa - interminável - será matéria de exame, e o exame assume-se como "o momento" definidor de quatro anos de consumo acelerado de matéria.
Hoje acabam.
Paz à sua alma.
Notas:
[1] "Fim dos exames do 4º ano: as crianças andaram três anos a treinar "para nada"?", Público, 26.11.2015.
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