A vitória do niilismo, de mãos dadas com a manutenção do status-quo
As causas da abstenção são diversas e variam naturalmente de pessoa para pessoa. Descontados os eleitores mortos que ainda constam dos cadernos - e que provavelmente serão algumas centenas de milhares -, os abstencionistas fazem greve ao voto por razões muito diversas, que vão das circunstâncias da sua vida (ex. mudança recente para zona afastada da respectiva secção de voto, sem possibilidade de alteração da mesma em tempo útil) a posturas de protesto convictas. Pelo meio - e é aqui que me parece encontrar-se o grosso do abstencionismo - há muita gente que por diversas razões assume posturas niilistas, marcadas por dois elementos fundamentais: por um lado um grande desligamento (frequentemente caracterizado como "descrença" ou "desilusão") face ao chamado "sistema político", na sua dimensão mais institucional; por outro lado um desprezo reiteradamente afirmado face a quase todas as formas de participação política não institucional que envolvam um mínimo de organização e coerência nos objectivos.
Em suma, é minha convicção de que a maior parte dos abstencionistas não vota porque não acredita que o seu voto faça a diferença, e não se mobiliza socialmente porque também não deseja assim tanto a diferença que (em tese) afirma ser necessária. Numa sociedade fundamentalmente dominada por visões conservadoras nos diversos domínios, o abstencionismo afirma-se de ano para ano como uma forma profundamente reaccionária de participação na manutenção do status quo.
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