Joker

Normalmente chego atrasado aos debates sobre cinema. Há oito anos que não entro numa sala a não ser para ver filmes de animação - ou afins - e por isso tenho quase sempre que esperar pela chegada dos filmes do momento (ou que foram do momento há 5 meses atrás) às plataformas de streaming. Foi o que aconteceu com "Joker", o filme de Todd Phillips que deu tanto que falar quando andava pelas salas nacionais.
Há no debate sobre "Joker" aspectos que não me interessam. É Joachin Phoenix um "Joker" mais "Joker" do que Heath Ledger? É "Joker" de Todd Philips um filme à altura do debate que motivou? Não sei nem me interessa. O que sei é que "Joker" contém aspectos novos na exploração do personagem - da figura para lá das suas interpretações - que me interessam profundamente.
Depois de ver "Joker" ficou para mim mais clara a questão da máscara e o seu papel na vivência que Arthur Fleck faz sua condição. Também ficou particularmente clara uma certa visão - que partilho - sobre a dimensão invisível dos transtornos e das doenças mentais numa sociedade que as encara - na prática - como caprichos de malucos ("The worst part about having a mental illness is people expect you to behave as if you don’t").
De resto o filme parece deixar sublinhar que o próprio Arthur tem grande dificuldade em identificar os limites da sua doença, ou a própria condição da mãe. "Joker" versa múltiplos temas, todos condensados na vida de um só homem e daqueles que o rodeiam.
Na minha perspectiva os pontos chave para a compreensão do processo de mutação que a história aborda - de Arthur Fleck para "Joker" - são a solidão, a incompreensão, a indiferença e (não menos importante) o papel dos pequenos caprichos do destino (episódios que poderiam não ter acontecido, mas que aconteceram...) na definição dos grandes acontecimentos da vida do ser humano. Não gostava assim de um filme faz muito tempo.
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