A Ucrânia: Alerta, alerta antifascista!
A Ucrânia não é uma só Ucrânia. Essa falta de unidade linguística, cultural, religiosa e ideológica não é culpa da Rússia - czarista, imperial, soviética ou oligarca. Trata-se de uma circunstância histórica que resulta da construção daquele território e da multiplicidade de factores que o foram moldando, com movimentação de povos, fronteiras e tendências geoestratégicas.
De um modo assumidamente simplista pode dizer-se que existe uma Ucrânia ocidental que de tempos a tempos olhou os vizinhos polacos como irmãos naturais, unidos pelo catolicismo e por uma particular identidade eslava que vive com o fantasma da "ameaça russa" sempre presente, e uma Ucrânia oriental, que partilha com a vizinha Rússia quase todos os elementos identitários - a língua, a cultura, a religião - e que encara a irmã gigante como o garante da sua segurança várias vezes atacada por invasores vindos do ocidente.
Estas "Ucrânias" têm-se enfrentado ao longo da história, por vezes de forma sangrenta, olhando com desconfiança uma para a outra. Os acontecimentos pós-soviéticos, e em particular aqueles verificados após o muito celebrado processo "Euromaidan", sublinharam e salientaram as tensões subterrâneas entre aqueles que procuram no ocidente europeu - nas suas múltiplas manifestações, políticas, culturais, religiosas e económicas-financeiras - uma via para um corte definitivo com a vizinha Rússia, e aqueles que pelo contrário se sentem ameaçados por essa via.
A abordagem ocidental que vingou num momento inicial do processo "Euromaidan" foi a de uma luta entre os grupos pró-democratas contra um governo delegado dos interesses russos em Kiev. Todos os incidentes que enfatizavam os métodos brutais da polícia ucraniana foram apresentados à exaustão como provas da existência de uma circunstância pré-ditatorial, ou de ditadura efectiva, enquanto que a evidente orquestração das manifestações (nada) pacíficas por parte de forças fascistas e neonazis foi secundarizada, desvalorizada e, por vezes, simplesmente escondida, alimentando uma narrativa estilo-Disney de luta entre "o bem e o mal".
Foi por isso sem surpresa que quando em Odessa se tornou absolutamente evidente que os protagonistas principais do movimento "Euromaidan" eram indivíduos e grupos criminosos e extremamente perigosos, que não hesitavam em espancar, intimidar e assassinar, a imprensa ocidental - incluindo a portuguesa - passou fundamentalmente ao lado dos acontecimentos da Casa dos Sindicatos daquela cidade que foi considerada pelas autoridades da URSS "heróica", pela sua resistência ao fascismo hitleriano durante os anos da guerra.
Hoje é para todos evidente que a Ucrânia se transformou num dos viveiros do fascismo e do neonazismo europeu, a par da Polónia e da Hungria. O jornal Público apresenta hoje um trabalho de investigação no seu caderno P2 sobre como a Ucrânia se tornou "para a extrema-direita o que a Síria foi para o Daesh". Nada do que o Público escreve é novidade para quem tenha observado com um mínimo de atenção os acontecimentos ucranianos posteriores a 2013. Seja como for é um princípio - e uma certa forma de autocrítica - este interesse do "perdócio" da Sonae relativamente a um ramo principal da "revolução" que com entusiasmo apregoou em Portugal como uma luta entre democratas e "separatistas russos". Em todo o caso continuam a chamar "separatistas" aos federalistas do leste ucraniano, mas não explicam porque razão nem as forças armadas ucranianas nem os grupos paramilitares fascistas se aventuraram pela Crimeia dentro...
Com a extrema-direita não se brinca. Repito e sublinho: com a extrema-direita não se brinca. Portugal já teve a sua conta, 48 anos de prisões, deportações, exílio, tortura, assassinatos e censura. Alerta, alerta antifascista!
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