Saúde, Marinho!

Em 1989 eu tinha 11 anos e o Belenenses ganhou a Final da Taça de Portugal ao Benfica, 2-1, com aquele balázio do Juanico que o Silvino ainda não viu entrar, já passaram 30 anos. Hoje é pior, mas em 1989 ser-se do Belenenses aos 11 anos de idade era assumir o estatuto de exemplar exótico na sociedade lisboeta e portuguesa. Numa turma de vinte e cinco alunos seriam dezassete do Benfica, oito do Sporting, um ou dois do Porto e, do Belenenses, um em cada cinco turmas. Já éramos poucos, e gozados.
A memória do Belenenses dos anos 20 e 30, quando era o maior de Lisboa e de Portugal, havia-se afundado de forma evidente. E apesar de estarmos claramente acima dos pretendentes ao estatuto de "quarto grande" - expressão de que não gosto - estávamos já distantes dos clubes a que em Portugal se convencionou chamar "três grandes".
Eu não estive no Jamor - aliás, no Jamor assisti apenas a um jogo nesta vida, a final da Taça de 2007, de má memória, com aquele golo solitário do Liedson a castigar termos estamos tanto tempo com 10 jogadores em campo, por indecisão de Jorge Jesus - mas lembro-me de ver a final de 89 pela RTP. E de ter celebrado a vitória na Taça naquele dia e nos dias que se seguiram. Durante uma ou duas semanas - não mais, que a espécie humana tem uma memória fraca e selectiva... - fomos maiores do que qualquer dos clubes eliminados durante aquela caminhada triunfal até à tribuna do Estádio, onde José António (o "careca") levantou a Taça que ainda não desapareceu e se encontra na Restelo, que é o lugar dela.
Devemos a Taça de 89 ao Chico Faria e ao Juanico, ao Zé António, ao Macaé, ao Zé Mário - que expulso saiu do campo a beijar a nossa camisola -, ao Jorge Martins e aos craques que bateram um super-Benfica com Mozer e Ricardo Gomes, Valdo e Diamantino, Magnusson, Pacheco e Paneira. Devemos a Taça de 89 a Barcínio Pinto, claro está, mas também e sobretudo a Marinho Peres.
Num clube fatalmente asfixiado por um pessimismo estrutural, que ganhou raízes já no Restelo quando os rivais históricos arrancaram para a profissionalização sem que os pudéssemos acompanhar, Marinho Peres foi no final da década de 80 numa lufada de ar fresco que se repetiu na viragem do milénio, com uma equipa que jogava muito mas que não tinha a vontade que se impunha para fazer frente à inércia de um clube que se habituou a ambicionar a "tranquilidade do meio da tabela".
Devemos muito a Marinho Peres e o Belenenses, com a excepção de meia-dúzia de lamentáveis equívocos, não é clube de ingratos. Por isso há uma homenagem duradoura por concretizar, mas nesta hora difícil - depois do AVC do ano passado e das dificuldades do momento presente - o que podemos fazer é endereçar-lhe o desejo de que possa superar este obstáculo e permanecer connosco. Saúde, Marinho!

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