O "basket" e as eleições
Foi de propósito que aguardei pela conclusão do processo eleitoral belenense para me referir ao tema das modalidades que não competem na “1ª Liga”, várias vezes referido durante a campanha como um género de indignidade que não respeita a história do Belenenses como grande emblema desportivo nacional.
Sou dirigente da secção de Basquetebol, que tem a sua equipa sénior masculina na 2ª Divisão Nacional, e entendi que qualquer intervenção pública sobre o tema durante a campanha pudesse ser encarada por alguns sócios como um género de intromissão de uma secção no acto eleitoral. Ora as secções devem manter-se à margem destes processos.
Coisa diferente é um sócio comum ficar inibido de se pronunciar sobre aquilo que entende ser correcto por desenvolver funções de seccionista (de forma graciosa e voluntária). Isso não aceito e, se um dia se colocar, deixarei o meu lugar à disposição de quem quiser trabalhar arduamente pelo Belenenses sendo simultaneamente obrigado a calar-se.
Sim, a equipa principal de Basquetebol do Belenenses disputa actualmente a 2ª Divisão Nacional (o chamado Campeonato da Proliga). Esta circunstância tem todavia uma história que durante a campanha aqueles que inúmeras vezes se referiram ao “Basket na 2ª Liga” foram incapazes de esclarecer, contextualizando o soundbyte.
O Belenenses foi durante anos uma das mais competentes equipas da LCB – a Liga de Clubes de Basquetebol – tendo jogado play-offs e competições europeias. A equipa dos anos da Liga era tão combativa que mereceu dos sócios a alcunha de “Guerreiros” (tal como depois o Futsal mereceu semelhante distinção, com os “Conquistadores”).
Em 2006/2007 a equipa do Belenenses esteve à beira de vencer a Taça de Portugal de basquetebol, alinhando na final da prova frente ao FC Porto mas saindo derrotada por 86-77.
O basquetebol de formação do Belenenses era forte e integrava equipas masculinas e femininas. Desses anos beneficiamos ainda de apoios por termos sido entidade formadora de Arnette Hallmann (actualmente no Benfica), jogador internacional português que se sagrou campeão de iniciados pelo Belenenses.
A final da Taça aconteceu a 25 de Março de 2007. Pouco mais de um ano mais tarde, em Outubro de 2008, a Comissão de Gestão em funções tomaria a decisão de suspender a actividade da equipa sénior masculina e a desistências das competições. O Basquetebol do Belenenses caiu assim da 1ª Divisão para… o nada. Por decisão de uma Comissão de Gestão.
Escusado será dizer que esta decisão não afectou apenas a equipa sénior masculina. A formação foi arrastada neste processo, o basquetebol perdeu adeptos e relevância e demorou muitos anos a reerguer-se. Mas reergueu-se. No início da década de 2010 a equipa sénior regressou à competição começando por baixo (entradas directas na Liga estão reservados aos clubes de sempre…): começou na 4ª Divisão e dali subiu à 3ª; disputou a 3ª e dali subiu à 2ª; e tem estado na 2ª, realizando todos os anos épocas melhores do que as anteriores. Nos últimos dois anos esteve realmente perto de subir: em 2018/2019 perdeu a meia-final (que garantia subida) para o Maia e, em 2019/2020, ficou afastada do Play-Off de subida pela Covid-19 e pela circunstância de ter um jogo a menos na altura da interrupção das competições.
Usar o exemplo do basquetebol, uma modalidade que tem registado um crescimento impressionante nos últimos 5 anos, que conta com mais de 200 atletas masculinos e femininos e que este ano parte para a disputa do Campeonato da Proliga com legítimas ambições de o vencer, como arma de arremesso contra a actual Direcção do Belenenses é desonesto e ofensivo. E pior: agride a própria secção.
Alguns elementos para reflexão:
- O basquetebol do Belenenses duplicou o número de atletas nos últimos cinco anos.
- Aumentou de forma significativa o número de equipas.
- Deu consistência à sua formação, toda ela baseada no minibásquete e no trabalho de excelência da equipa de treinadores montada por San Payo Araújo.
- Desenvolve actualmente um trabalho no basquetebol de formação um projecto pioneiro em Lisboa e provavelmente no país, liderado pelo Gonçalo Marques, um treinador com passagem pelo basquetebol basco e que trouxe consigo know-how em aplicação nas nossas equipas.
- Contratou para treinar a sua equipa sénior masculina o actual treinador-adjunto das equipas nacionais sénior M e Sub-20, o melhor jogador de sempre do basquetebol português.
- Atraiu jogadores internacionais A, Sub-20 e Sub-18 (Henrique Piedade, Rui Palhares, André Cruz e Martim Santos) que chegam ao Clube encarando-o como o ambiente certo para a sua evolução e afirmação no contexto nacional.
- Fez estrear nos seniores M e nas seniores F vários jogadores da sua formação.
- Voltou a participar nas fases finais distritais e nas competições nacionais da formação.
- Voltou a ver atletas seus seleccionados para as equipas distritais da ABL, das mais fortes do país.
Ostracizar o basquetebol, por se encontrar actualmente num segundo patamar competitivo, não é apenas um erro: é um insulto face a uma modalidade relevante do Clube, que remonta a 1927 e que faz parte da grandeza do Belenenses. Saibam aqueles que durante o último mês utilizaram uma modalidade do clube como arma de arremesso que o Belenenses é um dos únicos 5 clubes nacionais (dos quais um já não existe) que tem no seu palmarés títulos nacionais (Campeonatos e Taças de Portugal) cumulativamente nos sectores masculino e feminino. Não temos outra assim.
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