Militância, dedicação e amor (2)

De entre as várias figuras da história do Clube de Futebol "Os Belenenses" que a vida associativa e desportiva consagrou, Joaquim de Almeida foi uma das mais relevantes. Nunca lhe seremos suficientemente gratos. Talvez por isso a sua vida e o seu exemplo associativo mereçam estudo e louvor.

O Belenenses dos anos 20 e 30 do século passado era um clube muito diferente daquele que veio a ser depois. Pessoalmente, não desejo nenhum recuo. E se por vezes pareço "saudosista" é porque na verdade sou, embora um saudosista que busca na saudade inspiração para contribuir sempre para o Belenenses maior. Mas maior no respeito pela história e pelos valores de 1919.

De resto não vejo como se pode falar do grande Belenenses do passado e ao mesmo tempo desejar para o Belenenses de 2021 uma lógica empresarial que se afasta de forma radical de qualquer contacto com o projecto de um Belenenses dos sócios e da comunidade, o tal que motivou em Francisco Stromp um palavrão em forma de incentivo dirigido a Artur José Pereira.

A propósito de Joaquim de Almeida - do grande Joaquim de Almeida - cruzei-me recentemente com um artigo de um Boletim do Belenenses da década de 40, sendo seu editor Acácio Rosa e responsável o Dr. Constantino Fernandes, em que a figura do sócio-atleta é referida e exaltada. É precisamente esse texto que transcrevo, na expectativa de que sirva de inspiração para a mais importante tarefa do tempo actual no Clube de Futebol "Os Belenenses": a do reforço associativo, que é tarefa de dirigentes mas também de sócios. De todos e cada um de nós.

Pessoalmente tenho cada vez mais o sr. Joaquim de Almeida, "Cachon", como referência no esforço diário de promoção do Clube, da sua actividade e do seu exemplo associativo. E é por não lhe chegar aos calcanhares como belenenses que todos os dias me procuro aproximar desse ideal de amor clubista de que foi, seguramente, o máximo representante entre nós.

Se Artur José Pereira foi o pai da ideia, se Acácio Rosa foi o seu defensor mais empenhado, Joaquim de Almeida será sem dúvida, em quase 102 anos de vida, o mais acabado exemplo do belenensismo associativo. Não temos com toda a certeza outro caso na nossa história de uma dedicação assim.

JOAQUIM DE ALMEIDA (artigo no Boletim mensal do Belenenses, fevereiro de 1943)

Tipo de belenense perfeito e símbolo de amor clubista.

Trabalhador incansável arrasta consigo outros belenenses que destinam as suas horas vagas em benefício do Clube.

É preciso fazer-se uma obra, construir-se seja o que for, produzir trabalho por muito penoso que seja, o Joaquim de Almeida aparece. O seu exemplo anima os outros e frutifica mostrando a todos nós, belenenses, quanto pode a vontade de ser útil e a amizade por uma colectividade. Jogador, foi um exemplo de valentia, coragem e dedicação e não podendo já representar o clube nos campos desportivos, tornou-se um dedicado elemento de trabalho da maior utilidade para o C.F.B.

Hoje como ontem o Clube é tudo para ele.

Quando passa a sua figura humilde e modesta todos os belenenses devem descobrir-se apontando-o aos novos e dizendo. Vai ali um BELENENSE.



[Joaquim de Almeida transporta o estandarte do Belenenses nas Salésias, 1937]

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