Nos 102 anos do CFB
O Belenenses cumpre amanhã, dia 23 de setembro de 2021, impressionantes 102 anos de vida. Um clube com 102 será sempre, independentemente da sua situação conjuntural, um emblema maduro, experiente, com provas dadas no plano associativo e institucional. No caso do Belenenses, um dos quatro grandes do desporto nacional, essas provas – esses méritos! – são extensíveis ao plano desportivo. Não existem muitos clubes em Portugal que se possam equiparar ao verdadeiro e único “Clube da Cruz de Cristo”.
Pela minha parte continuo empenhado em participar num renascimento orientado pelos valores fundacionais – o serviço à comunidade e a representação desportiva e associativa de Belém, da Ajuda, do ocidente lisboeta e de todos os sócios que fizeram e fazem o CFB –, pelo associativismo democrático, pelos valores do desportivismo, do fair-play, pela vontade de ser cada vez melhor, mais competitivo, mais representativo e mais inclusivo.
O Belenenses, enquanto associação desportiva, só faz sentido com sócios – cada vez mais sócios –, com mais adeptos, mais e melhores atletas e, não menos importante, mais efectiva ligação à comunidade. Parece-me aliás que reside aí a chave para o futuro do clube: o Belém terá que voltar a ser o Clube predominante nos seus pólos de representação tradicionais: Belém e Ajuda, Algés e Oeiras, Amadora e Linha de Sintra, na linha ribeirinha-marítima que se estende de Alcochete a Sines, na Serra da Estrela, em zonas importantes do distrito de Aveiro e nas comunidades onde se encontram as suas filiais mais importantes.
Associativismo implica sócios. Pessoas que protagonizem o presente e o futuro.
Que se desengane quem achar que é fácil. Nunca foi. Leiam os relatórios de gestão dos anos 20, 30 e 40, quando o Belém estava na sua idade de ouro. Compreendam que em determinada fase da nossa história os números associativos eram inflacionados, e que noutra fase foram artificialmente aumentados por utilizadores de serviços – das piscinas, sobretudo – que desapareceram quando o serviço terminou.
Cativar pessoas não se faz “com campanhas” nem promoções, independentemente de campanhas e promoções serem aspectos importantes de qualquer estratégia de incentivo à adesão de novos ou ao regresso de antigos sócios.
O Belenenses precisa de sair do Restelo. Precisa de ir buscar as pessoas, ao invés de lhes pedir apenas que voltem. O Belenenses tem que dar o primeiro passo indo ao encontro daqueles que se afastaram ou daqueles que sendo bisnetos, netos e filhos de belenenses nunca sentiram o apelo do Clube, numa época histórica em que a vitória e a bola que entra parece ser muito mais valorizada do que os aspectos nucleares da identidade.
Gostaria de dizer que o Belenenses é eterno. E até arriscarei dizer que será eterno na memória do desporto nacional. Em todo o caso, nenhum organismo vivo – e um clube é um organismo vivo – pode aspirar a viver sem cuidar do seu futuro.
Acredito que têm sido dados passos importantes nesse sentido. Também penso que outros estão por concretizar.
Repito: não acredito em receitas simples nem vivo na ilusão de que é fácil. A praxis quotidiana diz-nos o contrário. Levamos muitos e muitos anos de sucessivas tentativas – periódicas e de duração limitada, é certo – para recuperar e cativar novas pessoas, sem grande sucesso.
Mas um Clube como o nosso só faz sentido com gente dentro. Gente diversa, que pensa e sente o Clube de maneiras diferentes. Gente que se possa expressar sem ser imediatamente carimbada com rótulos, que possa viver diariamente o clube sem aderir a facções e grupos, formais ou informais. Gente que sobretudo entenda que um clube-associação vive da participação na sua vida quotidiana, e que viver o Belenenses todos os dias vai muito além do cumprimento das obrigações estatutárias ou do interesse pelo que se passa nas redes sociais. O Belenenses sempre foi um resultado desta dialéctica e desta diversidade unida por uma única motivação central: engrandecer – desportiva e associativamente – o CFB.
Se este texto, que já vai longo, pudesse ser resumido numa única frase, ela seria tão simplesmente esta: aos 102 anos de vida é tempo de parar de pedir “venham ter connosco” e passar a agir no sentido de ir ao encontro dos que não virão sem essa mão estendida.
O Belenenses associativo precisa de todos.
Amanhã gritarei com vontade “Parabéns, meu Amor”. Por hoje fica o desabafo: menos dedos apontados, mais participação e co-responsabilização nos destinos do que é de todos.
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