As nações indígenas e o tempo que vivemos
No seu muito recente discurso de agradecimento pelo prémio de melhor actor, durante a cerimónia de entrega dos "Globos de Ouro", Leonardo DiCaprio referiu-se aos povos indígenas de todo o mundo, à sua dignidade e à necessidade de proteger as suas terras dos interesses corporativos que desde há séculos as colocam em risco. Trata-se de uma referência importante e actual, que encontra expressão por exemplo no estilo "anti-Western" de que "The Revenant" parece ser um dos mais recentes representantes no cinema.
Os povos indígenas - aqueles originários de territórios progressivamente ocupados e explorados por povos invasores e colonizadores - foram sempre ao longo da história caricaturados como gentes bárbaras, preguiçosas e pouco inteligentes, incapazes de explorar os recursos naturais em que as suas terras são ricas. Há dias li uma passagem de um livro de Wenceslau de Moraes sobre a história do Japão em que o autor refere a má fama de que gozavam os Ainu do Japão pré-colonização junto da população de origem continental que hoje é esmagadoramente maioritária nas ilhas nipónicas. Discursos semelhantes podem ser lidos e ouvidos relativamente aos povos originais da Austrália, do Hawaii, das Américas (do Norte, Central e do Sul) e da chamada "África negra".
Reduzidos a grupos populacionais cada vez menores, encurralados em reservas localizadas em porções de território de dimensões absolutamente ridículas, as populações indígenas que subsistem neste mundo sentem-se menorizadas face a uma "civilização" que não compreendem e que não raras vezes choca de forma violenta com o seu modo de vida, considerado menor, obsoleto, destinado à extinção.
O que DiCaprio referiu na cerimónia dos "Globos de Ouro" poderá funcionar como uma chamada de atenção ao mundo face ao destino de povos e modos de vida que guardam em si costumes, saberes e princípios ideológicos de que nos encontramos profundamente carecidos, nós, os "evoluídos" e "civilizados".
Numa peça noticiosa a vários títulos lamentável, o JN referia ontem que o cientista Stephen Hawking terá advertido para a possibilidade da Humanidade de autodestruir num período de tempo relativamente curto [2]. Hawking referiu como causas potenciais da autodestruição humana a "guerra nuclear, o aquecimento global e vírus geneticamente modificados". Creio que a sua avaliação face à possibilidade para a qual adverte não é fantasiosa nem desligada de uma realidade actual profundamente alarmante.
É também à luz da catástrofe que já vê vislumbra no horizonte que importa não apenas respeitar as nações indígenas como também aprender com elas, integrando o melhor das suas tradições nas nossas vidas, no seio das comunidades em que sobrevivemos.
Notas:
[1] "Leonardo DiCaprio Golden Globe 2016 Speech", Janeiro 2016.
[2] "Stephen Hawking fala no fim da humanidade", JN. 20/01/2016.
Os povos indígenas - aqueles originários de territórios progressivamente ocupados e explorados por povos invasores e colonizadores - foram sempre ao longo da história caricaturados como gentes bárbaras, preguiçosas e pouco inteligentes, incapazes de explorar os recursos naturais em que as suas terras são ricas. Há dias li uma passagem de um livro de Wenceslau de Moraes sobre a história do Japão em que o autor refere a má fama de que gozavam os Ainu do Japão pré-colonização junto da população de origem continental que hoje é esmagadoramente maioritária nas ilhas nipónicas. Discursos semelhantes podem ser lidos e ouvidos relativamente aos povos originais da Austrália, do Hawaii, das Américas (do Norte, Central e do Sul) e da chamada "África negra".
Reduzidos a grupos populacionais cada vez menores, encurralados em reservas localizadas em porções de território de dimensões absolutamente ridículas, as populações indígenas que subsistem neste mundo sentem-se menorizadas face a uma "civilização" que não compreendem e que não raras vezes choca de forma violenta com o seu modo de vida, considerado menor, obsoleto, destinado à extinção.
O que DiCaprio referiu na cerimónia dos "Globos de Ouro" poderá funcionar como uma chamada de atenção ao mundo face ao destino de povos e modos de vida que guardam em si costumes, saberes e princípios ideológicos de que nos encontramos profundamente carecidos, nós, os "evoluídos" e "civilizados".
Numa peça noticiosa a vários títulos lamentável, o JN referia ontem que o cientista Stephen Hawking terá advertido para a possibilidade da Humanidade de autodestruir num período de tempo relativamente curto [2]. Hawking referiu como causas potenciais da autodestruição humana a "guerra nuclear, o aquecimento global e vírus geneticamente modificados". Creio que a sua avaliação face à possibilidade para a qual adverte não é fantasiosa nem desligada de uma realidade actual profundamente alarmante.
É também à luz da catástrofe que já vê vislumbra no horizonte que importa não apenas respeitar as nações indígenas como também aprender com elas, integrando o melhor das suas tradições nas nossas vidas, no seio das comunidades em que sobrevivemos.
Notas:
[1] "Leonardo DiCaprio Golden Globe 2016 Speech", Janeiro 2016.
[2] "Stephen Hawking fala no fim da humanidade", JN. 20/01/2016.
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