"Super Tuesday"



Um dos aspectos que sempre me deu que pensar, em especial durante a fase mais militante da minha vontade irreprimível de mudar no mundo aquilo que me parece injusto e absurdo, foi (e é) a seguinte questão: o mundo quer ser mudado? Por mundo entenda-se a comunidade (ou as comunidades) humana.

O mais prosaico dos exemplos: valerá a pena sacrificar tempo e esforço à causa da melhoria das condições de trabalho quando um quantidade não desprezível dos trabalhadores (eventualmente uma maioria qualificada...) não apenas não mexe uma palha nesse sentido como se encontra globalmente de acordo com os vários mecanismos - sócios, políticos, económicos, culturais - de exploração que os submetem?

Na ressaca da "Super Tuesday" Biden passou para a frente da corrida democrata à nomeação para "Candidato Presidencial". Li alguns artigos e vi alguns vídeos sobre o assunto. O mais interessante é na minha perspectiva aquele em que Cenk Uygur faz no seu canal The Young Turks um género de balanço do dia eleitoral. O tom é irritado e o conteúdo muito menos magnânimo do que em anteriores intervenções sobre o tema das primárias. Uygur percebe claramente que Sanders ficou em apuros, procura explicar as causas da alteração na correlação de forças e não esconde a sua irritação. O que parece implícito na sua mensagem é a questão "será que a América não quer mudar?".



A resposta é provavelmente "não". Como de resto acontece em praticamente todo o mundo "ocidental" e às suas sociedades lamuriantes mas acomodadas, hiper-críticas do acessório mas submetidas ao fundamental da exploração do sistema. Sim, vivemos num mundo em que o 1% dos mais poderosos determinam quase tudo relativamente ao que é estrutural no nosso destino colectivo. Mas não, não temos vontade de agir por forma a alterar o absurdo da situação.

Valerá a pena viver a oposição a esta inércia de forma tão emocional? Ou abdicar desse ligação visceral à vontade de mudar é cair um niilismo que na prática dá força ao campo a que nos opomos e à maioria estruturalmente silenciosa que lhe dá cobertura?

Pessoalmente, e nesta fase da minha vida, vou oscilando entre as duas perspectivas e as suas posturas.

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