O melhor do futebol é o amor


Leio nas páginas da edição de hoje do Público um texto do jornalista Nuno Sousa sobre a morte de Julio Roque Pérez, adepto do Godoy Cruz, emblema de Mendonza, terra de bom churrasco e melhor vinho que fiquei a conhecer através de jogadores de Rugby do Belenenses com quem tive a honra de privar nos anos que passei naquela secção desportiva do meu clube de coração.
Da história de Julio "Loco" é lugar comum salientar-se a inocente oferta de um prémio de lotaria, aos quinze anos, que valeu ao Estádio do clube "uma tribuna e parte da iluminação". Mas não é esse o feito que aparentemente o torna merecedor de uma despedida reservada aos ídolos dos adeptos do jogo do povo. 
A oferta de dinheiro - de muito dinheiro, sobretudo quando o doador é um adolescente descalço, que sobrevive nas ruas, ganhando moedas para a sua alimentação e necessidades mais básicas - será, pelo menos neste caso, um sintoma de amor. E no futebol como na vida, o melhor é o amor, a entrega incondicional, o dar sem pedir em troca, a fidelidade ao emblema que vai muito para lá do contentamento pelas vitórias de circunstância, esporádicas ou regulares.
O "Loco" do Godoy Cruz "casou-se" com o Clube, dedicou-lhe o único bem que alguma vez foi verdadeiramente seu: a vida. Por isso foi celebrado como o maior de entre os apaixonados pelo emblema de Mendonza. Em vida e depois na morte. Nada mais justo.
A Argentina é um país estranho, pelo menos para mim, um lugar do qual me sinto distante e, ao mesmo tempo, tremendamente próximo. Um país de sentimentos não contidos e de emoções à flor da pele. Um terço de América do Sul, esticado e estendido - no que se diferencia do Chile espalmado contra o Pacífico - que pariu alguns dos seres mais incomuns do planeta. "Loucos", dizem alguns. Para lá de apaixonados, responderão eles.

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