Da ironia e das bancadas vazias



A ironia é um recurso discursivo arriscado, cujo domínio não se encontra ao alcance de qualquer um. Pinto da Costa, o monarca portista, usa-a como poucos num futebol dominado por personagens boçais, sem sentido de humor nem inteligência que ultrapasse o esquema e o óbvio.
Em declarações após a vitória do FC Porto sobre o Sporting, resultado que valeu ao clube novo título nacional de futebol sénior masculino, Pinto da Costa anunciou a intenção de levar Bruno Nogueira a actuar no Estádio do Dragão antes do jogo da equipa frente ao Moreirense, no próximo dia 20. E avançou como alternativa, em caso de indisponibilidade do humorista, uma tourada.
A farpa foi lançada e pode ser que acerte no alvo, enfatizando o absurdo que é - em Portugal mas não apenas em Portugal - a ausência de público na única modalidade que foi reactivada após meados de Março, e que se joga ao ar livre, em Estádios com capacidade considerável e que, na maioria dos casos, ficam sempre muito longe de meia-casa.
Os franceses já testaram adeptos na bancada - embora me espante a solução de concentração em espaços reduzidos, com vastos sectores do Estádio encerrados - e parece-me que não há grande margem para manter os donos do jogo afastados do epicentro da sua paixão. Caso contrário não há sentido algum para a disputa das competições, que não são - ou não deveriam ser - um produto de consumo televisivo.
Ao FC Porto, aos seus sócios e em especial a um familiar que tinha em campo no minuto em que os portistas se sagraram campeões nacionais 2019/2020, os meus sinceros parabéns. Não fui, não sou nem serei portista, mas ignorar o mérito deste FC Porto "falido e intervencionado" será um acto de pura cegueira clubista.
Ficam a faltar adeptos nas bancadas, ausência que será insuportável em 2020/2021. Haverá coragem política para reverter uma decisão que parece basear-se em tudo menos na ciência?

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