Diego em Sineloa

Se me perguntarem quem é o craque dos craques de entre aqueles que tive a oportunidade de ver jogar respondo se hesitação: Diego Armando Maradona. Um génio inacreditável, improviso calculado, bola colada aos pés e disparo fulminante, num misto de qualidades que o mundo haveria de atacar de todas as formas possíveis. Somos assim, os seres humanos: adoramos os nossos ídolos e, nesse amor, acabamos por destruí-los.
Eu sempre fui maradonista. Muito antes de Diego declarar o seu amor eterno a Cuba e a Fidel, a Chavez e ao ideal bolivariano que já conheceu melhores dias, mas que é - pelo menos até ver - a alternativa viável ao projecto neocolonial a que norte-americanos e europeus pretendem desde sempre submeter o lado B do continente americano. E como maradonista, ou maradoniano, entreguei-me sem defesas ao ideal do futebol que Maradona definiu: anti-linear, de variáveis, velocidades antagónicas, do altruísmo egoísta, esse paradoxo que acompanhou Diego durante toda a sua vida de futebolista.
Nunca abandonarei Maradona. Se me perguntam "quem foi o maior?" disparo sem medo: "Maradona". E acrescento: não foi, é. No futebol de que gosto haverão meia-dúzia de figuras no seu patamar e Pelé não é uma delas.
É este "amor" por Maradona que me faz entrar em choque com um Diego que não identifico com o ás dos anos 80, ou com o revolucionário que compreendeu o lugar da América do Sul na luta por mudanças políticas, económicas e sociais que tornem viáveis as sociedades humanas. O Diego de Sineloa, por exemplo.
Tinha começado "Maradona en Sineloa" há alguns meses atrás. Ontem terminei, com dois episódios de empreitada, um sofrimento, confesso. Não porque não seja Diego quem orienta a equipa com todas as suas enormes virtudes e os seus evidentes defeitos. Mas porque em Sineloa nada foi sobre futebol. Ou quase nada, vá. E Diego não foi apenas Maradona, foi produto na montra, marca no catálogo, comediante para a plateia.
Se Maradona foi feliz em Sineloa apenas o próprio poderá confirmar. Eu fui infeliz ao longo dos vários episódios do reality-show. E vou apagá-lo da minha memória maradoniana. Diego não merece tamanha afronta.

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