Um Belenenses sem belenenses
É curiosa, e factualmente correcta, a distinção que o próprio título do comunicado da Fúria estabelece entre Belenenses (clube) e SAD. Não é por mero acaso, nem por preciosismo sem conteúdo real, que o mais importante núcleo organizado de adeptos do Belenenses se refere à principal equipa de futebol azul como "equipa de futebol da SAD".
Nunca foi entusiasta do modelo privado de gestão de assuntos desportivos e associativos. No caso de um clube como o Belenenses, a criação da SAD constituiu mais um passo no sentido do colapso associativo - e por arrasto desporto e financeiro - de um emblema incapaz de resistir à desertificação das bancadas do seu estádio e do seu pavilhão. Tal como aconteceu noutros clubes, o Belenenses procurou resolver um problema - a sua incapacidade de resistir à erosão associativa - gerando um bem maior. A pirâmide foi invertida, deixando de assentar sobre uma base associativa e passando a apostar nas receitas empresariais que foram faltando, por razões diversas. Os resultados conhecidos são bem a ilustração do desacerto da opção do clube.
O Belenenses já não é dono - não é sequer accionista com voz - da SAD que ainda tem o seu nome na designação social. Esta realidade vexante deixou e deixa marcas na relação dos adeptos e sócios não apenas com o emblema mas sobretudo com qualquer ideia de futuro no seu contexto. O Belenenses "consagrado e popular" desapareceu, eclipsou-se, não conta para o totobola de uma indústria pérfida na qual nunca soube verdadeiramente encontrar o seu lugar.
Resta ao clube "da Cruz de Cristo" aspirar ao resgate da sua histórica equipa de futebol e, também por essa via, à recuperação de uma base popular de apoio que existe na sombra asfixiante dos grandes emblemas do regime. Se vamos ou não a tempo é coisa que só o futuro revelará.
Notas:
[1] "Fúria Azul suspende apoio à equipa de futebol da SAD", Blogue da Fúria Azul, 06.10.2015.
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