"Vêm aí os russos" [e parece que os cubanos também]
Este mesmo período histórico inaugura uma nova fase da vida política nacional, que repesca retórica anti-comunista antiga [1] e reformula o discurso do "arco da governação", reformulando fronteiras e estabelecendo novos limites à "credibilidade programática" em debate. Se até ao passado dia 4 de Outubro se dizia que "PCP e BE não estão dispostos a garantir uma solução de governo", hoje o discurso dominante nos media é outro: o PS não pode nem deve ceder à disponibilidade da esquerda para formar governo e inaugurar em Portugal uma inédita tentativa de dar combate à pobreza estruturante que se alapou ao país e às suas gentes desde há muitas gerações.
É precisamente no contexto do debate político em curso sobre as possíveis soluções governativas que poderão emergir do novo quadro político-institucional surgido das eleições legislativa (sublinho, legislativas e não "governativas") do passado dia 4 que se torna novamente saliente o discurso de chantagem e medo anteriormente ensaiado pela imensa coligação de direita existente em postos chave dos vários poderes no seio do regime: poder económico e financeiro - nacional e internacional -, comunicação social "de referência" e respectivos fazedores de opinião, instituições da União Europeia e afins, organizações representativas dos interesses das classes mais abastadas e poderosas de um país capturado, com destaque para a UGT.
O discurso do medo e da chantagem visa condicionar a democracia, impor-lhe limites artificiais, limitar soluções e diálogo, estabelecer fronteiras que não encontram verdadeira correspondência na estrutura social, económica, política e cultural do país. E é precisamente por isso (ou também por isso) que vencer o medo e enfrentar a chantagem deveria ser uma das prioridades daqueles a quem coube, num contexto extraordinariamente difícil e desafiante, a responsabilidade de encontrar soluções estilhaçando obstáculos e preconceitos.
As tentativas de reduzir as possibilidades em cima da mesa aos mesmos de sempre serão muitas e encontrarão natural eco numa imprensa incoerente, inconsequente, mas perfeitamente ciente do seu papel na manutenção do status quo. Acontece que Outubro de 2015 enxotou em definitivo a retórica vazia, injusta e primária que em todos os momentos eleitorais e pós-eleitorais era compulsivamente atirada para cima da esquerda portuguesa: o estigma (injusto) do "protesto sem proposta". Há propostas, há vontade de conversar e de trabalhar em conjunto. E é isso que mais doí aos "pundits" do regime.
Notas:
[1] Bons novos exemplos da enxurrada de artigos e intervenções neste sentido são o artigo de Octávio Ribeiro, director do Correio da Manhã, intitulado "Costa na Sierra Maestra", 12.10.2015, e um outro de António Ribeiro Ferreira, publicado no ionline com o título "Só faltava mesmo a este triste país um governo de derrotados", 12.10.2015.
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