Os descontentes



A inquietação e o descontentamento são sentimentos próprios dos seres humanos que não se conformam com uma determinada situação. Por vezes o descontentamento é bom na medida em que nos mobiliza para o futuro e para o progresso. Outras vezes funciona em sinal contrário, procurando refrear alterações importantes e, mesmo que invocando "dinâmica" e vontade de avançar, serve frequentemente para procurar travar processos de mudança importantes como aquele que se vive no Clube de Futebol "Os Belenenses".

O jornal "O jogo" publicou ontem uma peça sobre um "grupo de adeptos preocupados com situação actual do Belenenses". O "grupo" não é identificado, nem quantificado, pelo que pode ser numeroso mas também pode ser um duo, para quem considerar que um par é um grupo, um trio, meia-dúzia de tertulianos que gostam do Belenenses e se dedicam a conversar regularmente sobre as circunstâncias da sua vida desportiva, associativa e institucional.

Pela minha parte alegro-me com a existência de gente que manifeste preocupação, apesar de me parecer - através da simples leitura da referida peça - que neste (como noutros) contexto a preocupação não basta. É que num clube como o Belenenses o diagnóstico dos problemas está feito há muitos anos - infraestruturas desportivas antiquadas, por vezes degradadas, e insuficientes para o número e qualidade de atletas e equipas; erosão associativa com as respectivas consequências; convivência na região e na cidade de Lisboa com outros emblemas (que não apenas Benfica e Sporting) que capturam o fundamental dos recursos financeiros e físicos, nomeadamente os públicos; crónicas dificuldades de tesouraria - e a preocupação é o quotidiano de quem se encontra "com a mão na massa", seja na Direcção do clube, seja como seccionista de uma qualquer equipa de qualquer modalidade. O que se pede a quem dá o passo em frente é que aponte soluções diferentes, sobretudo quando se referem "caminhos diferentes" cujo conteúdo fica por concretizar.

A Fernando Moreira Silva, que com franqueza não sei quem é, e ao grupo de que é porta-voz o que se exige a partir deste momento - a partir do momento em que aparece na imprensa a manifestar "preocupação" e a deixar implícita uma candidatura (sua ou de terceiros) nas próximas eleições do Clube - é que apresente ideias alternativas relativamente aos temas que são foco da sua preocupação.

Um exemplo concreto: no que se refere às modalidades (um dos focos da "preocupação" do "grupo de sócios" a que se refere "O jogo"), que têm actualmente um problema objectivo e importante de espaços de treino e de competição (o Acácio Rosa não dá para todas as cerca de 40 equipas das 4 modalidades de Pavilhão do Clube), a pergunta é: que solução sugere Fernando Moreira Silva e o seu grupo?

Qualquer um é capaz de vir para os jornais - ou para as redes sociais - afirmar que "o clube tem de se apetrechar e arranjar soluções para ser mais moderno". Aliás, há 30 anos já se dizia que o Belenenses "tem de se apetrechar e arranjar soluções para ser mais moderno". O que importa não é portanto o diagnóstico, que está feito. São as soluções. E o dinheiro que as viabiliza.

Só que lida a peça do princípio ao fim fico com a sensação clara de que Fernando Moreira Silva, seja ele quem for, tem tanto conhecimento da realidade actual do Belenenses como aquele outro associado que há algumas AG's atrás disse (e passo a citar) que "o Belenenses se encontra reduzido a um Boa Hora". Senti vergonha alheia. Chavões e soundbytes sem conteúdo e sem soluções.

Pela minha parte mantenho firme a convicção de que o actual rumo do Belenenses é aquele que melhor serve os interesses do Clube e do seu futuro. Um futuro em que a soberania associativa nunca mais deverá ser posta em causa nem vendida em AG's por 197 sócios. Menos dos tais 2% da massa associativa referida pelo "porta-voz" do grupo dos preocupados.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

17-0, ou como Mourinho se estreou no Belenenses

A segunda morte do Estrela da Amadora

Assembleia Geral Eleitoral 2020: Porque voto A?