Rawle Alkins e o nosso basquetebol

O basquetebol do Porto anunciou a contratação de um ex-Chicago Bulls para a sua equipa A que disputa a Liga. É um bom motivo para reflectirmos sobre a forma como o desporto em Portugal anda a várias velocidades, realidade determinada por um desequilíbrio imenso no plano associativo e financeiro.

Curiosamente, esta contratação dá-se no dia seguinte ao feito da equipa de Andebol do Belenenses, que com tostões se vai encostando às equipas de milhões, ainda que dar o salto para a discussões dos títulos seja no actual quadro uma impossibilidade real.

Nos dias que correm, para 90% das equipas que disputam as principais competições nacionais das modalidades amadoras (amadoras sem aspas, que hoje profissionais são “meia dúzia” de equipas nas competições principais masculinas do Futsal, Andebol, Voleibol, Hóquei e Basquetebol) ser-se “campeão” é atingir os objetivos definidos e, dentro de um quadro realista, superá-los aqui e ali (passar mais uma eliminatória da Taça, levar um jogo teoricamente desequilibrado para um equilíbrio inesperado, acabar o campeonato uma ou duas posições acima daquela considerada a mais provável).

De resto parece-me que não existe qualquer noção de que o desequilíbrio está a matar as competições em Portugal. Na formação promove-se a captação em vez do desenvolvimento do talento. E nos escalões seniores as diferenças orçamentais são de tal forma acentuadas que há clubes que guardam para si os três ou quatro melhores jogadores de uma só posição, não para que joguem mas para impedir que os outros os coloquem a jogar.

Alguns emblemas contornam as diferenças com financiamento público, nomeadamente pela via dos municípios, mas de facto esse é um caminho sem sustentabilidade e sobretudo sem justiça. Rawle Alkins será jogador do Porto, pronto.

O nosso caminho, no Belenenses, será sempre e necessariamente outro. Por incapacidade financeira para acompanhar estas loucuras mas também e sobretudo por convicção.