A selva sem lei



A inexistência de lei é a lei da selva. Portugal ainda tem leis, boa parte das quais absurdas e construídas à medida das minorias. Mas tem. Agora parece que Marcelo se prepara para suspender direitos, liberdades e garantias, e o contexto parece o ideal para o que por aí já se ouve.

O ex-esquerdista João Vieira Lopes ameaça com despedimentos no sector do comércio. E os "proprietários" acham absurda a ideia de se impedirem despejos numa fase em que todo o país se uniu em torno do apelo "fica em casa". Seria anedótico, não fosse dar-se o caso de existirem mesmo patrões e proprietários a aproveitarem o caos para despedir e despejar.

A comunidade não é uma, não é una. Nunca foi. Portugal é um conceito sem correspondência social. Existem vários "portugais" dentro de Portugal que conflituam entre si. A pandemia e a ruptura económica e social que se afigura no horizonte clarificou-o e clarifica-o todos os dias. Por isso as estrutura sindicais têm hoje quase tanto trabalho como outros serviços de primeira necessidade que se mantêm de portas abertas.

O presidente da República decretará o "Estado de emergência" e muita gente suspirará de alívio. Mas a suspensão da lei é a lei da selva, a do livre arbítrio para quem manda e a da submissão absoluta para quem é mandado. Não me faz sentido nenhum.

Depois do terramoto de 1755 ficou célebre a frase atribuída ao Marquês de Pombal, e que determinava a necessidade imperiosa de "enterrar os mortos e cuidar dos vivos". Tanto quanto se sabe, D. José I, ao tempo rei de Portugal, não concretizou nenhum dos dois desígnios. Mais de 250 anos depois estamos na mesma: na falta de visão do mandante mor e no excesso de visão daqueles que aproveitam a névoa e as cinzas em suspensão para chutar quem não vêem como iguais em dignidade e direitos.

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