A Terra não existe para nós, existe independentemente de nós



Em 2015 Bill Gates advertiu para a séria possibilidade de uma pandemia global com capacidade de expansão muito superior ao Ebola. Os mais conspirativos dirão que Gates sabia o que estava a ser criado em laboratório mas eu prefiro pensar, porque é precisamente nesse sentido que apontam todos os dados, que em 2015 a ciência já disponha de conhecimento suficiente para prever a séria possibilidade de um qualquer "Coronavírus" surgir numa parte do mundo e rapidamente chegar a todos os outros cantos do planeta. Foi o que aconteceu entre o final de 2019 e este início de 2020.



Em 2015 poucos lhe deram atenção e eu confesso que apenas há dias descobri por mero acaso esta sua palestra nas famosas "TED Talks". Hoje ninguém se ri nem o acusa de alarmismo injustificado.

A questão das alterações climáticas - "aquecimento global" é outra coisa, que se insere no quadro das alterações climáticas mas que não as esgota - é outra que em breve se revelará evidente mesmo aos olhos dos cépticos mais militantes. A "novidade" é que os dois temas - alterações climáticas e saúde pública, pandemias e epidemias incluídas - estão intimamente ligados. E se calhar é hora de o reconhecer e agir.

O jornal inglês "The Guardian" publicou ontem um interessante artigo que aponta para as ligações directas entre a destruição ambiental e o advento de surtos de doenças que ameaçam seriamente a espécie humana. A peça é esclarecedora e suficientemente fundamentada para não deixar ninguém indiferente, como aconteceu com a palestra de Gates em 2015. Só que o ser humano anda permanentemente em negação e só age com o tsunami à vista, quando já pouco há a fazer. Somos assim como espécie e somos assim como indivíduos.

Infelizmente deixámos de nos percepcionar como seres vivos tão expostos à doença como os restantes terráqueos. Naturalmente que dispomos de mecanismos de defesa adicionais - a tecnologia, os serviços de saúde altamente qualificados ou a capacidade de organização das comunidades - mas também carregamos connosco alguns handicaps que se podem revelar fatais. Julgamos-nos acima do destino da natureza, somos capazes de planear e concretizar actos de maldade pura, segregamos e encontramos no outro a causa aparente das desgraças que sobre nós se abatem. Negamos, negamos, negamos. Esquecemos as nossas origens profundas e a relação íntima que temos com a natureza.

Do alto da nossa arrogância olhamos para as dezenas de milhares de anos de domínio humano sobre a natureza e a sua criação como um alfa e o ómega da vida sobe a Terra. Lamentamos cinicamente a extinção em massa que patrocinamos e parecemos ignorar que também podemos estar na lista. É que ao contrário do que muitos de nós pensam, o risco que hoje se coloca à espécie humana não é o fim do Planeta Terra ou da vida à sua superfície. A Terra não existe para nós, existe independentemente de nós.

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