O Belenenses e o "mercado" brasileiro
Quem pensar com relativo detalhe acerca das equipas do Belenenses nos anos 90 chegará à conclusão de que a tese dos "contentores de brasileiros" muito em voga no início do século XXI não passa pela prova da análise concreta aos plantéis e seus elementos.
É aliás curioso verificar que nos anos 80 e 90 os negócios relacionados com as transferências de jogadores entre o Brasil e os clubes portugueses (incluindo naturalmente o Belenenses) envolviam jogadores - alguns verdadeiros craques, outros nem tanto - e clubes que hoje se encontram num patamar inacessível às várias sociedades anónimas surgidas na viragem do Milénio.
Curiosamente, a explosão no número de estrangeiros nas equipas do Belenenses - incluindo naturalmente jogadores brasileiros, um dos "mercados" preferenciais para clubes portugueses, quer pela facilidade de adaptação dos jogadores, quer pelo custo relativamente baixo e potencial garantia de qualidade - dá-se após 1999, quando a constituição da sociedade anónima desportiva retira da órbita dos associados a gestão directa da equipa profissional de futebol do Clube.
Nos anos 80 e 90 passaram pelo Belenenses grandes treinadores brasileiros - Marinho Peres, desde logo, mas também Abel Braga - e jogadores provenientes de alguns dos mais relevantes clubes daquele país da América do Sul: Lula, que veio do Coritiba mas que antes tinha estado no Santos e no São Paulo; Luiz Gustavo, que veio do Cruzeiro; o grande Emerson, do Curitiba; Guto, que veio do Flamengo (apesar de ter chegado ao Belenenses depois de várias épocas no Elvas); Baidek, que veio do Grémio; Dudu, que veio do Vasco da Gama; Fernando Macaé, que veio do Botafogo; e o grande Zé Mário, que veio do Guarani, uma das equipas de topo de Brasileirão na segunda metade da década de 80.
Alterações diversas no mundo do futebol ocorridas nos anos 90 vieram retirar à generalidade dos clubes portugueses a capacidade de atraírem jogadores brasileiros de primeiro e segundo plano. Creio todavia que existe nesta mudança um outro elemento que não deve ser alterado: a constituição das SAD veio enfatizar a dimensão de gestão financeira na actividade dos departamentos profissionais de futebol, que passam a investir apenas na medida da capacidade de retirar mais valias financeiras - muito mais do que desportivas - dos investimentos realizados. Ora, isto passa por jogadores emprestados e/ou a custo zero, aposta em jovens talentos (alguns dos quais sem talento algum) e quase nunca por craques com créditos firmados, ou jogadores maduros com risco desportivo mais reduzido.
O Belenenses da primeira década do século XXI ainda conseguiu jogadores brasileiros de enorme valor, independentemente da sua proveniência. Verona, Eliel, o "imperador" Marco Aurélio, mais tarde o redes Júlio César, o grande capitão Filgueira, o goleador Marcão e, mais tarde, um trio defensivo de boa memória constituído por Amaral, Nivaldo e Rodrigo Alvim. Só que essa capacidade de captação de bons jogadores brasileiros foi-se perdendo e na época 2008/2009 a elevadíssima percentagem de jogadores do plantel com nacionalidade brasileira (cerca de 44%) é inversamente proporcional à qualidade do plantel, sofrível.
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