Chega de demagogia e estupidez

O "Chega!" já disse ao que vinha, já mostrou como o quer fazer e já definiu a sua meta. É muito claro no que se refere ao acessório embora nebuloso no que se refere ao essencial - nunca ninguém ouviu Ventura gritar por entre "vergonha!" os seus objetivos programáticos de acabar com a saúde prestada por hospitais públicos ou a descida dos custos do trabalho, incluindo salariais, medidas que constam no "Programa" do seu partido.
Ventura quer criar no cidadão comum a ideia de que "diz o que o povo quer dizer e não pode" e por isso adopta aquele estilo que vai variando entre o lugar comum pouco esclarecido (o "toda a gente sabe que..."), a tirada pseudo-radical que é tão só e apenas extremista e o completo disparate. É aliás essa a marca mais saliente do discurso de Ventura e do "Chega!" no que à Covid-19 diz respeito.
Vejamos por exemplo o caso das máscaras, cuja utilização indiscriminada é desaconselhada pela Direcção Geral de Saúde, orientação que é suportada pela própria Organização Mundial de Saúde, que sobre o tema adverte para o engano que é julgar-se que a máscara previne o contágio pelo Coronavírus ("A Organização Mundial de Saúde aconselha a utilização de máscara aos doentes, casos suspeitos, ou para aqueles que interagem directamente com um infectado, mas a simples utilização de protecção não inviabiliza a transmissão do vírus.", Público 26/03/2020).
O "Chega!" acha que não, que Ventura é que sabe. E por isso grita com letras capitais na sua página da rede social Facebook que "é IMPERATIVO usar máscara na rua para evitar contágio ao próximo" acrescentando a orientação pseudo-científica da utilização de "um lenço de pano a proteger a zona do nariz e da boca".
Pior: para dar credibilidade à sua posição, o "Chega!" partilha uma ligação para um pequeníssimo excerto de um entrevista ao Prof. Doutor José Alves, Presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão, no qual o entrevistado refere (e passo a citar) que (a máscara) "a partir de agora deve ser utilizado por todas as pessoas que tenham suscetibilidade acrescida, sobretudo em contextos de grandes aglomerados ou frequência dos serviços de saúde". Qualquer relação entre este excerto e ideia de que "é IMPERATIVO usar máscara na rua" - ou a utilização de "lenço de pano a proteger a zona do nariz e da boca" - será na melhor das hipóteses pura demagogia.
O "Chega!" é o sensacionalismo transportado para um discurso político alarmista, demagógico, feito de meias verdades que procuram dar consistência à mentira. Se isso o transformará numa força política com real poder no país em que vivemos é coisa que apenas o tempo poderá esclarecer.


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