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"De e dos sócios": da ideia abstracta à praxis diária

Depois do debate em torno de modelos genéricos de abordagem ao fenómeno desportivo (clube-associação vs clube-empresa), existe um outro debate não menos importante que é o de se saber qual o estilo, o tipo ou a ideia de associativismo a concretizar (na prática muito mais do que na retórica) no seio dos clubes-associação. Não acredito em modelos. Cada clube tem a sua história, a sua identidade e realidade associativa, as suas prioridades, forças e dificuldades. O associativismo que serve ao Clube A pode não estar ao alcance, ou não ser do interesse, do Clube B ou C. Existem, todavia, princípios gerais que caracterizam um “clube de sócios e dos sócios”. Do meu ponto de vista, sublinharia cinco princípios fundamentais: 1. O “clube de sócios e dos sócios” é aquele em que todas as decisões estruturantes e fundamentais são tomadas de forma informada, e tendo presente todos os dados acerca das mesmas, pelos associados no contexto do grande fórum do associativismo que são as Assembleias Ge...

Nos 102 anos do CFB

O Belenenses cumpre amanhã, dia 23 de setembro de 2021, impressionantes 102 anos de vida. Um clube com 102 será sempre, independentemente da sua situação conjuntural, um emblema maduro, experiente, com provas dadas no plano associativo e institucional. No caso do Belenenses, um dos quatro grandes do desporto nacional, essas provas – esses méritos! – são extensíveis ao plano desportivo. Não existem muitos clubes em Portugal que se possam equiparar ao verdadeiro e único “Clube da Cruz de Cristo”. Pela minha parte continuo empenhado em participar num renascimento orientado pelos valores fundacionais – o serviço à comunidade e a representação desportiva e associativa de Belém, da Ajuda, do ocidente lisboeta e de todos os sócios que fizeram e fazem o CFB –, pelo associativismo democrático, pelos valores do desportivismo, do fair-play, pela vontade de ser cada vez melhor, mais competitivo, mais representativo e mais inclusivo. O Belenenses, enquanto associação desportiva, só faz sentido com ...

Atomização e ecletismo: como erramos ao comparar contextos diferentes ou, ao contrário, como não percebemos o que é comum a todos eles.

Costuma dizer-se que "em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão". O povo é detentor de uma sabedoria feita de experiência em camadas, geração após geração, sendo esta aplicável aos mil e um contextos de vida em que nos vamos envolvendo. O Belenenses é desde há décadas uma "casa onde não há pão". A análise dos relatórios de gerência, dos números e da sua interpretação ao longo de décadas - num clube com mais de 100 anos de história - não deixa dúvidas acerca disso. Cite-se, a título de curiosidade, o relatório da Comissão Técnica (ou seja, dos responsáveis da secção) do Rugby logo em 1928: “Foi com pesar que os componentes desta secção notaram a corrente desfavorável de alguns consócios, alegando gastos demasiados que acarretaria para o Clube”. No início dos anos 40 já se debatia abertamente a capacidade financeira do Clube para: a) se manter num nível competitivo elevado ao nível do futebol, num cenário de profissionalismo escondido, controlado e mani...

A desumanização da bancada

Os últimos 13 meses alteraram profundamente a forma como as pessoas passaram a interagir entre si. É aliás curioso que a ideia de "distanciamento físico", comprovadamente eficaz na contenção da propagação do "Sars-Cov-2", tenha sido reiteradamente designada como "distanciamento social". Este alteração afectou, numa magnitude ainda por definir e avaliar, a relação das pessoas entre si e das pessoas com as instituições, incluindo aquelas que até Março de 2020 faziam parte do seu dia-a-dia. Instituições associativas, por exemplo, como os Clubes desportivos. O Clubes, que durante décadas cumpriram um papel delegado pelo Estado - o de promover a prática e a formação desportiva - viram-se de súbito obrigados a fechar portas, reformular rotinas de treino e a perder, sem grande capacidade de reverter a situação, dezenas de milhares de praticantes e associados. As suas secretarias encerraram, os seus espaços de prática desportiva sofreram fortes limitações de acess...

A nossa maior derrota

O Belenenses tem 101 anos de existência. É um clube grande, com quase 3000 atletas distribuídos por nove modalidades - Futebol, Atletismo, Natação, Triatlo, Andebol, Futsal, Rugby, Basquetebol, Voleibol -, com muitos adeptos e uma massa associativa resiliente ainda que reduzida. É um clube bairrista que se projectou para o país e o mundo, e que teve quase sempre uma circunstância especial: a sua dimensão desportiva andou quase sempre um passo à frente da sua capacidade financeira e, com esta relacionada, da sua dimensão associativa formal (ou seja, do seu número real de associados). Após 1999 o Clube entrou num processo que os anos vão tornando mais claro e que nos conduziu à situação da perda do futebol profissional para uma entidade externa, situação consumada na viragem de 2012 para 2013 e depois confirmada em 2014, quando dando execução ao que suponho ter sido sempre e desde o início o seu plano, a referida entidade transformou o Belenenses associativo num detalhe menor da existênc...

Militância, dedicação e amor (2)

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De entre as várias figuras da história do Clube de Futebol "Os Belenenses" que a vida associativa e desportiva consagrou, Joaquim de Almeida foi uma das mais relevantes. Nunca lhe seremos suficientemente gratos. Talvez por isso a sua vida e o seu exemplo associativo mereçam estudo e louvor. O Belenenses dos anos 20 e 30 do século passado era um clube muito diferente daquele que veio a ser depois. Pessoalmente, não desejo nenhum recuo. E se por vezes pareço "saudosista" é porque na verdade sou, embora um saudosista que busca na saudade inspiração para contribuir sempre para o Belenenses maior. Mas maior no respeito pela história e pelos valores de 1919. De resto não vejo como se pode falar do grande Belenenses do passado e ao mesmo tempo desejar para o Belenenses de 2021 uma lógica empresarial que se afasta de forma radical de qualquer contacto com o projecto de um Belenenses dos sócios e da comunidade, o tal que motivou em Francisco Stromp um palavrão em forma de in...

O "basket" e as eleições

Foi de propósito que aguardei pela conclusão do processo eleitoral belenense para me referir ao tema das modalidades que não competem na “1ª Liga”, várias vezes referido durante a campanha como um género de indignidade que não respeita a história do Belenenses como grande emblema desportivo nacional. Sou dirigente da secção de Basquetebol, que tem a sua equipa sénior masculina na 2ª Divisão Nacional, e entendi que qualquer intervenção pública sobre o tema durante a campanha pudesse ser encarada por alguns sócios como um género de intromissão de uma secção no acto eleitoral. Ora as secções devem manter-se à margem destes processos. Coisa diferente é um sócio comum ficar inibido de se pronunciar sobre aquilo que entende ser correcto por desenvolver funções de seccionista (de forma graciosa e voluntária). Isso não aceito e, se um dia se colocar, deixarei o meu lugar à disposição de quem quiser trabalhar arduamente pelo Belenenses sendo simultaneamente obrigado a calar-se. Sim, a equipa pr...