Da urgência da revisão da lei das SAD (5)



Em Julho de 2015 os sócios do CD Feirense aprovaram em Assembleia Geral a venda de 70% do capital da sua SAD, constituída meses antes, em Outubro de 2014, a um grupo investidor nigeriano. Não sei ao certo se o sócios do clube de Terras de Santa Maria votaram na posse de todos os elementos acerca do "investidor", mas consultando por exemplo a peça veiculada pela Sapo Desporto a propósito da votação, que decorreu à porta fechada, pode ler-se que "no final da reunião magna de hoje, a direção do Feirense preferiu não divulgar o nome do grupo investidor que será detentor de 70 por cento do capital da SAD".

O investidor era na verdade Kunle Soname, figura política e empresário no seu país natal, criador do website de apostas desportivas online "Bet9ja", empresa esta envolvida num caso de alegada recusa de pagamento de um prémio, no ano de 2017.
A primeira questão que surgirá a muitos é se não ocorreu aos sócios do CD Feirense, caso estivessem na posse de todos os elementos básicos acerca de Kunle Soname, o óbvio conflito de interesses entre por um lado a posição assumida pelo empresário na SAD e por outro lado a sua condição de empresário envolvido no negócio (legal) das apostas desportivas. E isto independentemente da nossa coxa lei das SAD não o proibir.
Em 2017 o Feirense viu aliás os seus jogos frente a Rio Ave e Paços de Ferreira serem suspensos da bolsa de apostas e a Procuradoria Geral da República a informar que decidira "investigar as alegadas apostas ilegais no jogo Placard relativas à partida de futebol entre o Feirense-Rio Ave". O Feirense reagiria pedindo esclarecimentos.
Tanto quanto se sabe nada de ilegal foi apurado, apesar da percepção noticiada nos jornais de "elevados montantes" envolvidos e do "volume atípico de apostas registado" nos jogos do CD Feirense.
Na frente dos negócios o Feirense concretizou impressionante receita com a passagem do compatriota de Kunle Soname, o avançado Etebo, que havia estado emprestado ao Las Palmas (Espanha), para o Stoke City por 7,2 milhões de euros. Etebo rumou entretanto ao Getafe, por empréstimo do Stoke. Só que nem isso serviu para a SAD privatizada deixar marca no clube da Feira...
Usando o diteito de resposta relativamente ao conteúdo de uma entrevista de Soname, o CD Feirense (clube) vem referir ao diário Record já em Março de 2020 que "a SAD do Clube Desportivo Feirense não tem qualquer obra. Nem feita, nem a fazer. O complexo e o estádio são propriedade do clube, o primeiro desde 2004 e o segundo desde 1961"; "Não havia necessidade, principalmente numa altura em que devemos estar unidos, valorizar o "agora" esquecendo o passado, levando, até, o jornalista Rúben Tavares a afirmar que "a melhoria das infraestruturas está a mudar a face do clube" e a perguntar se "podemos falar de um Feirense pré-Kunle e pós-Kunle". É um desrespeito para os feirenses, que não querem que se mude a face de um clube que é assim há muitos anos.".
A pergunta fica: sendo o Feirense conhecido como "clube de contas certas", e não tendo a SAD de Kunle Soname "obra feita", para onde vão as mais valias de vendas (como a de Etebo) e outros proveitos da actividade da sociedade? Para o Feirense e a comunidade de Santa Maria da Feira aparentemente não.
Já se viram melhores dias na relação entre fogaceiros e o "investidor".

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